Novo chanceler, Stocker liderará coalizão de três partidos formada cinco meses após eleições parlamentares. Chanceler austríaco Christian Stocker (à esquerda) cumprimenta o presidente Alexander Van der Bellen durante cerimônia de posse do novo governo federal, em Viena, em 3 de março de 2025.
AP Photo/Denes Erdos
O conservador Christian Stocker tomou posse como novo chanceler da Áustria nesta segunda-feira (3), dando fim a um período de cinco meses sem governo após as eleições parlamentares. Stocker liderará uma coalizão de três partidos que exclui a extrema direita, vencedora do pleito.
O novo governo austríaco terá que lidar com o aumento do desemprego, uma recessão e um orçamento sob pressão. Seu acordo de coalizão, alcançado na semana passada após as negociações mais longas da Áustria desde a Segunda Guerra Mundial, prevê regras rigorosas para asilo no país, que tem uma população de 9 milhões de pessoas e faz parte da União Europeia.
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Stocker, de 64 anos, torna-se chanceler apesar de não ter concorrido ao cargo quando os austríacos votaram em setembro e de não ter experiência em um governo nacional. O líder social-democrata Andreas Babler será o novo vice-chanceler. Leia mais abaixo sobre quem é Christian Stocker.
Este é o primeiro governo tripartite da história recente da Áustria, e reúne o conservador Partido Popular Austríaco (ÖVP) de Stocker —sigla com mais cadeiras no Parlamento—, os Social-Democratas de centro-esquerda e o partido liberal Neos.
A aliança no centro político foi formada apenas em uma segunda tentativa de negociações, que visavam deixar de fora do governo o Partido da Liberdade, de extrema direita, vencedor das eleições com 29% dos votos em setembro de 2024.
A primeira tentativa fracassou no início de janeiro, levando à renúncia do então chanceler Karl Nehammer, então líder do ÖVP. Nehammer havia afirmado que seu partido não governaria sob a liderança de Herbert Kickl, do Partido da Liberdade.
Stocker assumiu a liderança do Partido Popular no lugar de Nehammer e iniciou negociações com Kickl para uma possível coalizão, mas essas conversas colapsaram em 12 de fevereiro, em meio a acusações mútuas. Os três partidos de centro então retomaram os esforços para encontrar um consenso, evitando a possibilidade de uma eleição antecipada.
A líder do Neos, Beate Meinl-Reisinger, assume o cargo de ministra das Relações Exteriores no lugar de Alexander Schallenberg, que também serviu como chanceler interino nos últimos dois meses após a renúncia de Nehammer e não faz parte do novo gabinete.
Quem é Christian Stocker
(Da esquerda para direita) Andreas Babler, líder dos social-democratas, Christian Stocker, líder do partido conservador ÖVP, e Beate Meinl-Reisinger, líder do liberal NEOS, apresentam plano de coalizão para novo governo da Áustria em 27 de fevereiro de 2025.
REUTERS/Lisa Leutner
Novo chanceler austríaco, Stocker é de uma família que não tem tradição política. Ele é filho de um eletricista e começou sua carreira na política local em sua cidade natal e só entrou para o parlamento em 2019, quando uma vaga do ÖVP foi aberta.
Advogado pragmático e direto, Stocker tem buscado manter a Áustria, cada vez mais inclinada para a direita, firmemente dentro da União Europeia e crítica à Rússia, ao contrário da extrema direita, que agora permanece na oposição.
Poucos meses antes de se tornar chanceler da Áustria nesta segunda-feira, Christian Stocker era um funcionário de partido sem experiência ministerial, prestes a se aposentar e quase desconhecido fora da bolha política.
“O desconhecido (futuro) chanceler”, foi o título de um perfil recente de Stocker no tabloide austríaco Kronen Zeitung.
Mas, após cinco meses das negociações de coalizão mais caóticas da história pós-guerra do país, após uma eleição inconclusiva em setembro, o discreto homem de 64 anos foi empossado como chefe de governo.
Stocker foi um leal tenente como secretário-geral do ÖVP, sob a liderança do então chefe de partido e chanceler Karl Nehammer. Em desordem e sem ninguém com poder de estrela desde que seu então talismã Sebastian Kurz caiu do poder em 2021, Stocker foi nomeado como líder interino.
Stocker disse ao jornal austríaco “Die Presse” que não achava ter chances de se tornar líder do OVP quando Nehammer renunciou.
Partidos de centro formam governo na Áustria e excluem extrema-direita
“No dia em que a decisão foi tomada, eu fui de jeans e suéter de gola rolê para Viena. Algumas horas depois, tive que pedir que me trouxessem um terno e uma gravata”, disse Stocker.
Stocker é visto por analistas políticos como uma figura resiliente e com postura imperturbável. “Eu não o chamaria de um grande atrator de votos, mas ele conseguiu manter tudo unido durante um período incrivelmente difícil para o Partido Popular”, disse o analista Thomas Hofer.
Reinhard Heinisch, cientista político da Universidade de Salzburg, disse que Stocker parecia mais astuto do que Nehammer e, como sua idade tornava improvável que liderasse o ÖVP nas próximas eleições, ele poderia se concentrar em manter a coalizão à tona.
Stocker ganhou a simpatia de Kickl durante as negociações fracassadas entre a extrema direita e os conservadores. O líder do partido extremista elogiou o conservador, dizendo que eles haviam construído uma boa relação de trabalho.
