A seita vegana que foi fundada por ex-estagiária da Nasa e é investigada por 6 assassinatos nos EUA

A seita vegana que foi fundada por ex-estagiária da Nasa e é investigada por 6 assassinatos nos EUA


Um agente da patrulha de fronteira dos EUA e um proprietário de terras esfaqueado 50 vezes estão entre as supostas vítimas do grupo. Jack Lasota após ser presa pela polícia da Califórnia em 2019
Sonoma County Sheriff’s Office
Um grupo americano semelhante a uma seita, conhecido como Zizians, foi associado a uma série de assassinatos nos Estados Unidos, o que levou a várias prisões.
Mas, afinal, quem são as pessoas por trás deste grupo, e em que elas acreditam?
Jack Lasota, de 34 anos, que supostamente lidera um grupo com algumas dezenas de seguidores, conhecido como Zizians, foi presa no domingo (16) ao lado de Michelle Zajko, 32 anos, e Daniel Blank, 26 anos, sob acusações que incluem invasão de propriedade e obstrução.
As autoridades afirmam que estão investigando pelo menos seis assassinatos nos EUA que supostamente estão ligados a membros do grupo, incluindo um duplo homicídio na Pensilvânia, um ataque com faca na Califórnia e o assassinato de um guarda de fronteira dos EUA em janeiro.
Quatro outros supostos membros do grupo já foram acusados de assassinato.
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A origem do grupo
Lasota, uma mulher transgênero, é supostamente a líder do grupo.
Ela se formou em ciência da computação pela Universidade do Alasca Fairbanks, em 2013 e, de acordo com seu blog, se mudou para a região de San Francisco três anos depois.
Lá, ela escreveu que se candidatou a uma série de empregos em empresas de tecnologia e startups — incluindo um breve estágio na Nasa, a agência espacial americana —, e começou a se associar com pessoas envolvidas no movimento racionalista, uma corrente intelectual popular no Vale do Silício que enfatiza o poder da mente humana para enxergar a verdade com clareza, eliminar vieses e pensamentos ruins, e melhorar os indivíduos e a sociedade.
Lasota começou a escrever em seu blog usando o pseudônimo “Ziz”, mas logo se desentendeu com os racionalistas tradicionais quando seus escritos tomaram rumos bizarros.
O blog incluía publicações com milhares de palavras, mesclando as experiências pessoais de Lasota, teorias sobre tecnologia e filosofia e comentários esotéricos sobre cultura pop, programação de computador e dezenas de outros assuntos.
Em determinado momento, durante uma longa diatribe sobre a série The Office, inteligência artificial e outros assuntos, ela escreveu: “Percebi que não era mais capaz de suportar as pessoas. Nem sequer os racionalistas. E eu viveria o resto da minha vida completamente sozinha, escondendo minha reação a qualquer um com quem fosse útil interagir. Eu havia abdicado da minha capacidade de ver a beleza para poder ver o mal.”
Outros temas incluíam o veganismo — evitar totalmente qualquer alimento ou produto de origem animal — e o anarquismo.
Em 2019, Lasota e três outras pessoas foram presas durante um protesto do lado de fora de um evento realizado por uma organização racionalista. As últimas postagens em seu blog datam desta época.
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Falso obituário
Nos anos seguintes, Lasota e outras pessoas se mudaram pelos EUA, de acordo com relatos, chegando a morar em um barco e, mais tarde, em propriedades de terceiros na Califórnia e na Carolina do Norte.
Em 2022, foi emitido um mandado de prisão quando Lasota não compareceu a uma audiência no tribunal, relacionada ao protesto fora da reunião da organização racionalista. Mas seu advogado na época declarou que ela havia “falecido após um acidente de barco na região da Baía de San Francisco”.
Um obituário — observando que Lasota amava “aventuras, amigos, a família, música, mirtilos, ciclismo, games de computador e animais” — chegou a ser publicado em um jornal do Alasca.
Mas a história estava errada: Lasota ainda estava viva.
Jessica Taylor, pesquisadora de inteligência artificial que diz ter conhecido vários membros do grupo, contou à agência de notícias Associated Press que Lasota e os zizians forçaram suas crenças racionalistas para justificar a violação das leis.
“Coisas como achar que é razoável evitar o pagamento do aluguel, e se defender de ser despejado”, afirmou Taylor.
Poulomi Saha, professora da Universidade da Califórnia em Berkeley, que estuda seitas, diz que, embora não haja uma definição legal estrita deste tipo de grupo, vários dos atributos do Zizians se alinham com a concepção cultural popular do termo.
“Trata-se de um grupo de indivíduos que parecem compartilhar alguns pontos de vista pouco ortodoxos”, ela explica. “Isso, por si só, não renderia a eles o rótulo de seita… mas há esta figura de liderança, ‘Ziz’.”
Saha observa, no entanto, que ainda há uma incerteza significativa sobre as relações entre os membros do grupo e sobre o que pode ter motivado os supostos atos de violência nos últimos anos.
Escalada da violência
Curtis Lind fotografado após ter sido supostamente atacado por zizians
Lind Family/GoFundMe
Pouco tempo depois da publicação do obituário, Lasota reapareceu com outros membros do grupo em Vallejo, na Califórnia, que fica ao norte de San Francisco. Vários membros estavam morando em vans e caminhões em um terreno de propriedade de um homem chamado Curtis Lind.
Em algum momento, os zizians supostamente pararam de pagar o aluguel, e Lind entrou com um processo para despejá-los.
Mas a disputa se intensificou e, em novembro de 2022, Lind foi atacado, esfaqueado 50 vezes, e ficou cego de um olho. Em um ato que a polícia chamaria mais tarde de legítima defesa, ele disparou uma arma que matou Emma Borhanian, ex-funcionária do Google que era um dos zizians, e que já havia sido presa no protesto racionalista.
Dois outros membros, Suri Dao e Somni Logencia, foram presos, acusados de tentativa de homicídio de Lind. Eles permanecem na prisão aguardando julgamento. Lasota também estava no local do ataque, mas não foi acusada de nenhum crime.
No mês seguinte, os pais de uma integrante do Zizians foram mortos em uma pequena cidade da Pensilvânia.
Richard Zajko, de 71 anos, e sua esposa, Rita, de 69 anos, foram encontrados baleados na cabeça em sua residência.
Eles eram os pais de Michelle Zajko, membro do Zizians, que foi brevemente detida pela polícia, mas não foi acusada de nenhum crime.
Lasota foi presa e acusada de obstrução da Justiça e perturbação da ordem em conexão com o incidente.
A busca continua
O agente da patrulha de fronteira dos EUA, David Maland, em foto de arquivo sem data, foi morto em uma troca de tiros com membros do Zizians
US Department of Homeland Security
Apesar das ligações com esses dois ataques, o grupo passou despercebido, sem receber muita atenção do público até o início deste ano.
Em 17 de janeiro, Lind, o dono da propriedade na Califórnia que supostamente havia sido atacado por membros do grupo, foi assassinado.
O Departamento de Polícia de Vallejo informou que ele foi esfaqueado até a morte por um agressor que usava uma máscara e um gorro preto.
Mais tarde, a polícia acusou Maximilian Snyder de assassinato, e alegou que Snyder matou Lind para impedi-lo de testemunhar durante o julgamento de tentativa de homicídio.
Poucos dias depois, ocorreu o assassinato de um agente da patrulha de fronteira dos EUA no outro lado do país.
Dois zizians, Teresa Youngblut e Felix Bauckholt, foram parados pelo agente da patrulha de fronteira americana, David Maland, perto da fronteira canadense, em Vermont.
Começou uma troca de tiros. Bauckholt, cidadão alemão que também atendia pelo nome de Ophelia, foi morto no tiroteio junto com Maland.
Youngblut — que antes era conhecida como Milo — foi ferida e, posteriormente, presa sob acusações relacionadas a armas de fogo.
O tiroteio levou a uma busca mais ampla por membros do grupo depois que a polícia disse que a arma usada para matar Maland foi comprada por Michelle Zajko.
Fugitivos capturados
Após o tiroteio em Vermont, a polícia da Pensilvânia disse que havia descoberto novas evidências sobre o assassinato dos pais de Zajko, e Jack Lasota estava sendo procurada por não ter comparecido a várias audiências judiciais.
O paradeiro de Lasota e Michelle Zajko era desconhecido até domingo, quando elas foram presas com o companheiro de grupo Daniel Blank, em Maryland.
Um relatório da polícia afirmou que um morador de Frostburg, a cerca de 260 quilômetros a noroeste de Washington DC, havia ligado para a polícia dizendo que queria três pessoas “suspeitas” fora de sua propriedade, depois que elas pediram para acampar em seu terreno por um mês.
A Polícia Estadual de Maryland informou que o trio foi acusado de invasão de propriedade e obstrução, e que Lasota e Zajko foram acusadas adicionalmente de violações relacionadas a armas. Todos os três tiveram o pedido de fiança negado.
O advogado de Lasota, Daniel McGarrigle, se recusou a comentar a prisão, mas enviou à BBC uma declaração que havia feito anteriormente sobre sua cliente, dizendo: “Faço um apelo aos membros da imprensa e ao público que se abstenham de especulações e conclusões prematuras”.
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