Fortalecido, Erdogan tenta firmar sua influência na Síria pós-Assad

Fortalecido, Erdogan tenta firmar sua influência na Síria pós-Assad


Presidente da Turquia quer garantir o retorno dos refugiados e impedir que milícias curdas se estabeleçam na fronteira, mas agendas entre grupos rebeldes são conflitantes. Erdogan em discurso de vitória
Murad Sezer/Reuters
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, desponta como ator crucial e vitorioso na derrubada do regime brutal da dinastia Assad, que comandou a Síria por mais de meio século. Com três milhões de refugiados em seu território desde que a guerra civil eclodiu, em 2011, a Turquia começou a abrir postos ao longo da fronteira de 900 quilômetros, na contramão de países vizinhos, para permitir o retorno de sírios.
✅ Clique aqui para seguir o canal de notícias internacionais do g1 no WhatsApp
Na rota inversa do presidente russo, Vladimir Putin, enfraquecido pelo colapso do regime de Assad, Erdogan aproveita, como membro da Otan, o momento para firmar a sua influência na região: ao se ver como líder natural dos países árabes e muçulmanos, saboreia a oportunidade de moldar a nova ordem síria, conforme avaliam os pesquisadores Steve Cook e Sinan Ciddi em artigo publicado na revista “Foreign Policy”.
“Ele se encontra em uma posição nova e dominante para determinar o futuro da Síria, sem Assad no poder”, ponderam os dois especialistas em Oriente Médio.
O acolhimento de refugiados sírios durante a guerra civil resultou numa grave crise econômica na Turquia e mal-estar interno, refletido nas eleições regionais e legislativas. Daí a pressão de Erdogan na estabilização da Síria para uma rápida solução na repatriação dos sírios.
Além disso, a Turquia apoiou abertamente as milícias que integram o Exército Nacional Sírio (SNA), para impedir que grupos curdos se estabeleçam no lado sírio de sua fronteira sul. Ainda não está clara a relação do país com os rebeldes do Hayat Tahrir al-Sham (Organização para a Libertação do Levante ou HTS), liderados por Abu Mohammad al-Golani, a facção dominante que em apenas 11 dias derrubou o regime sírio.
O HTS tem raízes fincadas na al-Qaeda e no Estado Islâmico, mas seu comandante vem demonstrando empenho para reformular a imagem do grupo jihadista, prometendo segurança às minorias do país.
“Apesar do esforço de informação bastante sofisticado do HTS, projetado para convencer os crédulos de que é ‘moderado’, os Estados Unidos, a ONU, a UE e até mesmo a Turquia o designaram como uma organização terrorista”, explicam Cook e Ciddi em seu artigo. Diferentemente da milícia do Exército Nacional Sírio, o HTS evitou lutar contra os curdos nas últimas semanas.
Somando-se aos dois grupos, atuam ainda no país as Forças Democráticas Sírias, organização curda armada apoiada pelos EUA, que, além do Exército de Assad, combate contra Turquia, HTS e Estado Islâmico. A dúvida é saber como esses grupos, com agendas divergentes e até mesmo conflitantes em algumas questões, se acomodarão no período pós-Assad.
LEIA TAMBÉM:
ANÁLISE: Queda de Assad gera celebração e temor de futuro instável na Síria
ENTENDA: O que explica colapso tão rápido do Exército sírio com avanço de rebeldes que derrubaram Assad?
QUEBRA-CABEÇA: Irã, Hezbollah, Hamas: como fica a geopolítica do Oriente Médio com a queda de Assad

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

POSTS RECOMENDADOS